AMAR O DEUS DE AMOR

29/07/2010 15:04

 

IMAGENS ENGANOSAS

É desconcertante, a cada dia, ainda constatar quantas imagens inadequadas de Deus moram na mente e no coração de pessoas de fé.  Imagens de Deus sustentadas por atos de religião, supostamente capazes, em sua eficácia própria, de tornar Deus favorável a interesses e necessidades individuais. Imagens de um deus útil, deus intervencionista, deus amante dos sacrifícios e promessas que aplaquem o medo da verdade e da justiça. Existe mesmo este deus intervencionista, que anula o jogo das liberdades humanas? Ora, as Escrituras os mostram, gradativamente, o Deus da Vida, que faz viver. O Deus dos espaços abertos que criou o ser humano livre. Fomos criados criadores, capazes de proezas incríveis. Este mundo nosso atual da nanotecnologia é disso uma prova luminosa. Somos capazes de proezas, sim, boas e más. Por isso Jesus nos vem como salvação. Vem nos libertar dos enganos sobre Deus e seus projetos, sua vontade, seus desejos e sonhos de bem-querer. Jesus faz de nós pecadores perdoados, capazes de, livres e fieis, nos tornarmos adoradores do Pai em verdade, construtores da paz do seu Reino. Entretanto, o que parece de difícil percepção e de aprazada aceitação é assumir uma compreensão do Deus vivo e verdadeiro; ter de Deus uma imagem interior que nada tenha a ver com a concepção de um deus milagreiro ou justiceiro. Esse aí é um pobre deus.                                                      (Deus me livre de deus assim!).

 DEUS FRÁGIL

Um Deus frágil é nossa brecha salvadora. Jesus nos cativa por sua liberdade, coragem e sua fidelidade Somos cativados pela revelação de que o Deus único é Amor. É relação de amor que circula, vivificando: o Pai, o amante o Filho, o amado; o Espírito, a chama deste Amor. Amados que somos por esse Deus uno-e-trino, ficamos sabendo, e saboreando, e por isso revisamos nossas imagens interiores de deus. Quase iria, revisando os deuses interiores que fabricamos à nossa conveniência interesseira. Deus frágil? Sim. Jesus clareou intensamente para nós este caminho o ser humano, cada homem e cada mulher, é necessário a Deus. Somos nós, criaturas, necessárias a Deus? Pois somos. As propostas de Deus e sua eficácia contam com a adesão livre a seu pleno Amor. Nada será convalidado na amorosidade da vida se o sujeito humano não quiser responder com amor  a este plano, o Reino. Se não houver resposta, reciprocidade humana, nada feito. É só relembrar, contemplando, a cena da Anunciação do anjo a Maria. Maria, a jovem judia desposada com José. Uma oferta – de graça, Ave! – de se engravidar de Deus, supõe aceitação Supõe um SIM de adesão. Supõe um SEJA de alegre resposta. Pressupõe, pois, um AMÉM de permanência na fidelidade. Quando Maria disse FIAT (aconteça), o ser humano recria com Deus o mundo. Maria faz ressoar, a jeito humano, o FIAT LUX (faça-se a luz) da criação do universo. Um novo mundo começava. Maria, então, prepara o FIAT VOLUNTAS TUA (seja feita a tua vontade) de Jesus no jardim das oliveiras. De novo, o mundo novo recomeçando. Todos nós somos hoje portadores potenciados e também dizer: Fiat. Seja, aconteça. Seja feita a vossa vontade. Assim é, então: - se não mergulharmos nesta torrente amorosa de adesão alegre; se não aceitarmos que Deus fique vulnerável por conta de nossa liberdade, se não concordarmos (coração que se põe de acordo) com esta relação intima com o Mistério Divino, feita de reciprocidade; se não seguirmos neste caminho revelado e mostrado na pessoa mortal de Jesus, um Deus frágil (o que contraria nossas fantasias de poder), jamais compreenderemos quem Jesus é, o que anuncia. Ficará difícil ser discípulo dele, seguidores deste caminho. Por mais que gostemos dos ritos religiosos da religião cristã. Ah, não dá pra entender como sua Eternidade Deus entra no tempo que passa. Só amando! Só através de uma resposta livre, em recíproca troca de amor. Sobre este mistério fascinante, dizia Afonso de Ligório que se trata de uma história de quem é “impazitto d” amoré: enlouquecido de amor. Loucura.

ESCUTANDO JESUS

A parábola da ovelha desgarrada; parábola da dracma perdida; a parábola do filho dissipador da herança. Quando estas três parábolas são reunidas em nosso coração surpreso, clareando nossa mente surpreendida por este amor tão intenso; quando estas três parábolas germinam no percurso de nossas estações da vida; quando isso acontece, estamos a caminho de estar com Deus. De estar em Deus-Amor. Nos sentiremos amados; buscaremos ser amoráveis, prontos para ser amantes da vida e da verdade. Uma ovelha querida se desgarra do rebanho. Uma mulher só possui aquela moeda forte e a perdeu. Um homem tinha dois filhos...   Parábolas da inquietação do amor em busca. Parábolas da esperança que geram novidade. Parábolas da atenção carinhosa, do amor cuidadoso feito ternura em gestos inéditos de reação. Parábolas reveladoras: Deus é Ternura, Cuidado, Compaixão, Misericórdia. Nomes para dizer o Deus vivo e único. Um homem tinha dois filhos. Um Deus, o único, tinha um só Filho. O Filho do Deus único é um Filho pródigo em Amor. E com Ele, a esperança retorna ao coração humano. Com Ele, o tempo se torna capaz de eternidade. O Filho único do único Deus no calvário foi mostrado. Afonso, com propriedade, nomeia o calvário como o Monte dos amantes. O calvário se faz o centro de pura compaixão, misericórdia pura, generosidade plena. Doação, entrega que faz viver. Contemplamos transtornados este dar a vida que mais não é que dar vida. Assim foi Jesus no tempo de sua biografia: o cego, enxerga; a mão seca, age; a lepra se dissipa; o apodrecido Lázaro retorna ao convívio dos seus; o cego vê e adere; a multidão se nutre com o pão multiplicado e entende errado quem é Jesus; o paralítico queixoso toma sua maca e anda, bendizendo. E quando nada de tudo isso, dessa largueza de espaços abertos, pôde acontecer, Jesus chorou. Jesus, o ressuscitado, cravou definitivamente na carne da história o cravo da Ternura de Deus. Donde jorram torrentes redentoras: o ser humano resgatado para a liberdade do dom. Livre para a dadivosidade sem cálculos e sem medida. Liberto da autocentração para a convivialidade, o abraço, a festa da vida. Sem exclusões. Eis o ser humano resgatado para o Amor de Deus: perdão, serviço, ações libertadoras, democracia relacional e estrutural. Um mundo novo, uma terra nova. Pois novos são os corações e os sonhos.

(C)ORAÇÃO DE DEUS

Um dia Jesus nos ensinou rezar: Pai nosso que estais nos céus. Ele que vivia cheio da quente condição humana, que amava tanto, que nos contava as coisas divinas do Reino a ser concretizado, nos disse: quando forem orar, rezem assim: PAI NOSSO. Imagem de Deus? Não. É a realidade de uma genealogia espiritual. Deus é Pai; paternidade direta. E o Filho único se rodeia de uma multidão de irmãos. Ousado, Ele. O Filho, enviado como mediador, estabeleceu a mediação máxima: todos irmãos, com os mesmos direitos. Os direitos humanos ao Divino; direitos ao amor, à ternura, ao perdão, à vida eterna. Abertura total: herança paterna para todos. Deve ter sido numa inspiração de pura santidade divina que Jesus nos ensinou esta oração. Pai Nosso. Pai é o verdadeiro nome de Deus. Prece de afeição, revelando quem Ele é e quem somos chamados a ser. – Pai, eu te conheci. (Jo 17,25). E desde então, sabemos que a prece jamais é vã. Repensando, com Charles Péguy, que o Pai que está nos céus nos escuta sim, escuta assim: – Eu sou o Pai de todos eles. Meu filho lhes repetiu à saciedade que sou o pai. Quem é pai é, sobretudo, pai. Eles são os irmãos de meu Filho. Quando meu Filho lhes ensinou a rezar (Pai NOSSO que estais nos céus), sabia bem o que estava a fazer. Sabia o que fazia naquele dia em que lhes ensinou a rezar assim. Ele vivia entre eles, sofria com eles. Amava-os tanto que trouxe para nosso céu um gosto de gente, um certo gosto da terra. Meu Filho que os amou tanto, que os ama eternamente no céu. Ele bem sabia...  Pois é. Um pai tinha dois filhos. Um pai tinha um só Filho. Ele é um Deus que tem agora a multidão dos filhos da Terra. Não mais apenas criaturas; são filhos queridos que ele aguarda.

A FÉ CURA A VIDA

Deus é frágil. Aguarda nossa resposta; solicita nossa liberdade para o amarmos juntos, quais filhos abençoados. Ele nos quer fazedores de sua vontade, plantando uma civilização do Amor. À espera de libertações para uma convivência justa, de paz e justiça. São muitos, muitíssimos os que descrêem da Bondade da Vida e da Eternidade feliz em Deus. Descrêem mas acreditam em muitos outros deuses atraentes na aparência do agora prazeroso. Leitor (a): na inspiração que vem do Espírito Santo de Jesus, em nossos corações derramado, repasse as várias representações de Deus que rondam sua mente e seu coração. Entra nesta roda, afasta as imagens enganosas. Não deixe circular em você esse veneno que envenena os caminhos da Fé. Purifique suas imagens interiores sobre Deus. É preciso purificar o interior nosso, nossa subjetividade, evangelizando nossas profundezas. Nossa saúde espiritual clama pela vida e verdade. Deixa o Amor purificar sua lucidez. A vida na Fé cura a vida.

Pe. Dalton Barros de Almeida, C.Ss.R.

Belo Horizonte, MG

Akikolá

Redentoristas do Leste em Notícias - Informativo da Provincia de MG, RJ e ES - Ano 28 - Nº 03 - Maio de 2010